veio rolando a roda pelo caminho até se dar conta que tinha sede, muita sede, bateu na casa mais próxima, quem lhe atendeu? Ninguém, a porta estava entreaberta, e um copo com água pela metade descansava na mesa, desfilando na fresta, deu dois goles, deixou o terceiro pra planta que jazia seca no banquinho ao lado, silêncio absoluto, três da tarde de um domingo, como não ser. Resolveu deixar a roda de madeira por ali mesmo, como agradecimento pela água.
os parentes estavam chegando de viagem, tios primos a vó, aquela amiga da tia que sempre sabia como fazê-lo rir, e a mãe pediu pra correr na padaria, pegar alguns pães pra “alimentar a tropa” ela disse franzindo o nariz da rinite. Mal alcança a o balcão, mas a moça da padaria já o reconhecia pelo topo da cabeça e ele pediu 30 pães, que orgulho sabia contar até trinta, e quando ele abraçou as sacolas e notou que os pães estavam quentes, pelando, voltou e pediu mais um. Comeria caminhando, na volta pra casa, as mãos geladas, o pão quente, a família grande, que vida boa.
é verão, sabe que é verão pq tem horário de verão e pq está quente e o copo de limonada está suado, quase oito da noite e ainda é dia, o short meio colando nas coxas. Senta nos degraus esperando alguém passar e parar e se aliar na contemplação. Fecha os olhos, abre os ouvidos e ouve a mãe abrindo a cadeira de praia, os pés descalços raspando, a bola meio murcha, a criança grita “ó o carro”, a borracha do pneu rolando devagar sobre o paralelepípedo, “opa!”, “oooo, noite!”, a bola quica novamente, calçada sendo varrida, o dedo na ponta da mangueira apontada pro céu pra fazer chuveirinho, toda gente voltando pra casa, quarta feira e a cidade preguiçosa. Não tem mais gelo no copo, é verão.
